segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Me ocorreu:

Quando você termina ou começa um livro, você diz:
- Mais um...
Ou:
- Menos um...
.
Não que isso seja relevante...
smuack

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Nota de repúdio ao BA-28*

"E tu sabes, Sônia, que os quartinhos de teto baixo e estreitos oprimem a alma e o espírito?" Dostoiévski, em Crime e Castigo

*BA-28 é o nome de um padrão habitacional com 28m2 que o Estado costruía.

sábado, 28 de novembro de 2009

Cenurbana 1

O cara do picolé, sem respirar:

Óiu picolé, eu tenho mangaba, umbu, coco, maracujá, cajá, doce de leite, caju, milho verde, cupuaçu, açaí, amendoim, tapioca, manga, nata-goiaba, goiaba, morango, chocolate, limão, acerola, abacaxi, creme com passas, iogurte, graviola, maçã verde, tamarindo, jaca...

Agora me diga se é possível caber mais de dois picolés de cada sabor naquela caixinha de isopor. Nunca entendi isso.

domingo, 8 de novembro de 2009

Bienal em SP

Então fica combinado que esse é para melhor fixar na minha memória.

Tô exausta, quase não consegui pôr meu pé esquerdo no chão quando acordei nesse dia de branco. O dia pós viagem é muito dificultoso explicar, é realmente quando estou entre duas cidades, entre duas... ou melhor, entre combinações, jeitos e escolhas de ver e lidar com tudo o que está perto de mim. Mas isso é muito fugidio, feliz ou infelizmente, sei lá...

Fui lá, ver a bienal de arquitetura, que não despertou nada de novo em mim. Eu ingenuamente pensava que bienal era para trazer, pelo menos, uma discussão controversa, uma polemicasinha e tal. Mas ela me vem apoiada em quatro palavrinhas que parecem putas velhas que já serviram pra tudo quanto é trabalho. Opa!, sem querer desmerecer o meretrício.

A exposição dos holandeses pareceu ser interessante, mas ainda não li o segundo caderno para entendê-la melhor. Os alemães foram pretensiosos e, como bem observou Leo, cheios de clichês. Acho que os cinco países da África, que expuseram um projeto cada, estavam lá para não dar margem pro crítico sem criatividade dizer que só temos olhos para a Europa e blá, blá blá, e também por causa da Copa (hum.... se bem que a África do Sul não expôs... mas é tudo África, não?). Falando em Copa, a exposição dos projetos para esta estava lá, mas, na moral, não existiu. Tinha uma dúzia de painéis e uma reprodução de arena que só poderia ser para as crianças.

Eu gostei muito da exposição de uma universidade de Hong Kong (perdoe, não lembro o nome). Eles estão mostrando trabalhos interessantes sobre tipologias desenvolvidos por alunos. A exposição de arquitetos brasileiros foi convencional: dois painéis e uma maquete para cada. E os projetos que vi são coisas do tipo que saem na AU ou na Projeto. O Governo do Estado tinha um espaço apresentando projetos que, numa olhada superficial, pareceram interessantes, principalmente a Companhia de Dança de São Paulo. A Prefeitura tinha um espaço também, mas o que ela apresentou foram aquelas casinhas iguais enfileiradas. Os demais, nada... ou eu não olhei ou não se fixaram na minha memória.

São Paulo é muito sedutora e andando por lá é preciso manter o foco. De tanta sedução – exposições, roupa, comida, música, livros, coisinhas exclusivas – estou criando uma convicção: a meta de minha cidade não pode ser oferecer o que São Paulo tem, senão estamos perdidos. Simples assim e não posso esquecer.

E uma convicção que já tinha se consolidou naquela cidade. Albergues são bem mais legais que hotéis. E, como o ENEA (Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura) me preparou pra vida, em situações de exceção como é uma viagem, eu abdico tranquilamente do quarto com banheiro pelo clima de comunhão dos albergues. Apesar disso, o hotel em que ficamos foi interessantíssimo. Ele nos apresentou um conceito inovador, revolucionário para os mais entusiasmados, de, digamos, abrigo. Os hóspedes têm oportunidade de desfrutar não de um quarto, mas de um banheiro com cama!! Tendo apenas o vaso sanitário enclausurado, tem-se chuveiro, pia e cama no mesmo espaço, é uma maneira totalmente super-nova de pensar o que é dormir e o que é higiene! Veja você, isso podia estar na bienal!! Gênios gênios gênios.

Muitos amigos e conhecidos também foram à SP ver a bienal e outras coisas. Numa conta rápida, tinham umas 16 pessoas. Encontrei também um amigo que conheci em Granada, e, velho, muito, muito estranho ver ele em São Paulo, fora daquele contexto do intercâmbio. Parecia que ele estava no cenário errado.

Apesar de ter perto pessoas que eu gosto muito, acho que 60% do tempo preferi ficar só. Basicamente por diferenças de prioridades e/ou interesses no que ver em SP. Velho, eu estou ficando cada vez menos flexível para abrir mão do que eu quero ver numa cidade. Mas, também, de noite era fundamental eu encontrar as pessoas, pra, de repente, tomar umas.

Ah sim!, você já tinha visto fila em banheiro de livraria? Isso pra mim era coisa que não existia.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Maria Bethânia

Eita!... Esqueci de dizer isso. Completando o texto anterior:

Por uns dez dias fui para o trabalho com o carro de minha mãe, este tem som. Nos primeiros dias fui ouvindo Babe Ruth porque, além de ser uma ótima banda, ela me me faz sentir livre e de gosto exclusivo. Depois, por querer estar calma, sentir serenidade e ter um pouco de identidade, peguei, emprestado de meu tio, Maria Bethânia no CD “Imitação da Vida”. Meu tio, aliás, é a única pessoa que eu conheço que ainda ouve e compra CD´s.

Então estava indo trabalhar dirigindo, Maria Bethânia no ouvido, e no ar sinto ela recitando Fernando Pessoa. Jesuis... Parei no sinal vermelho e não vi quando ele abriu. O ser humano que estava atrás deu aquela buzinada sem nenhum afino e expressei sem palavras (contraindo as sobrancelhas e levantando a mão em riste): velho, você não tá vendo que é Fernando Pessoa e Maria Bethânia?!!

Fui indo de novo, quase chegando ao trabalho, mais um Desassossego e passei da rua onde eu tinha que virar à direita. Suspiro. Descobrindo outro caminho, ouvindo outra música, passei pelo final de linha da Pituba, virei à esquerda, subi uma ladeira, e merrrrrda, deixei de virar na rua de novo. Aí desliguei o rádio, já estava atrasada e o dia me chamava.

Se eu fosse legista e puritana diria que ouvir Maria Bethânia recitando Fernando Pessoa deveria constar no código de trânsito como infração média a grave.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Yo, conductor

Faz pouco tempo eu comecei a dirigir com mais freqüência em Salvador. Pensei várias coisas sobre isso:

Nas primeiras primeiras vezes que fui trabalhar de carro fiquei na neura de esquecer este fato e voltar pra casa de ônibus. Ficava me repetindo: “sanane, você tá de carro, você tá de carro...”

Quando saio do carro e olho para ele sinto desconforto com todo aquele volume. É uma coisa muito grande para ser só de uma pessoa... tudo isso só para mim?

Comecei a entender melhor as conexões de Salvador, principalmente as rótulas. Porque quando estou de ônibus, minha percepção dos lugares é pontual. Vejo um lugar, passa um tempo, depois presto atenção em outro. Sei que o ônibus fez um percurso entre um e outro, mas se ele virou à esquerda ou direita, se passou por cima ou por baixo de um viaduto, se fez retorno é um detalhe para mim. De carro eu TENHO que prestar atenção nas conexões.

Choque. Ledo engano e ingenuidade minha pensar que o carro me daria mais liberdade de locomoção. Tsc, tsc, tsc... se não tiver lugar para estacionar fica-se quietinho em casa assistindo televisão ou se é OBRIGADO a ir só nos lugares com estacionamento, de muita preferência sem pagar por isso. Sem falar da lei seca.

Quanto à segurança, eu mesma nunca achei que estar de carro desse mais segurança a ninguém. Pelo contrário, me sinto mais segura em pegar um taxi só do que pegar o carro naquela única rua que tinha vaga. Acho que vou comprar um spray de pimenta pra mim.

E até outro dia eu achava que todas as buzinas eram por minha causa.

sábado, 10 de outubro de 2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Orai, irmãos

Livrai-me de toda idéia transformada em dircurso, amém!

sábado, 26 de setembro de 2009

Salvador

As coisas vão se agregando, acumulando e ganhando significado.

Não tenho muita vontade de ir ao miolo ou na orla atlântica de Salvador. A atmosfera úmida daqui não me faz querer ir lá. Mas vou. O miolo me parece muito uniforme, muito quente e sufoca. Quando falo uniforme me refiro à grande escala. Tsc, que me matem! Enfim, meu campo de visão lá é muito curto, não existe horizonte, chego a sentir os fios de energia se enrolando em mim.

No atlântico o ar é difuso, entorpecido. As coisas são meio superficiais, aeradas e o horizonte é aquilo mesmo que o define. É uma linha horizontal, inalcançável e inerte que separa tons de azul. O Atlântico é belo, sem dúvida. Mas o belo óbvio não aprisiona.

Mas a Baía... mas-a-baía... Quando vou por lá tenho impulso de gritar nos soteropolitanos que Salvador NÃO é uma metrópole, Salvador NÃO é cosmopolita. Fico repetindo essas coisas na cabeça, involuntariamente.

Os ferros, as paredes úmidas, os esgotos, a topografia, as ilhas, as feiras, os infinitos horizontes. Mariscagem, meu Deus, a mariscagem... de onde vi, as pessoas viraram pedra para catar marisco. Isso me enche tanto os pulmões que transborda pelos olhos. Venho me apegando a estes horizontes para tentar entender Salvador e outras coisas. Ou pelo menos eu quero acreditar que venho me apegando a isso.

Acho (e apenas acho) que o que torna Salvador única e congruente é que no momento em que dou o passo para voltar para casa sinto mais ou menos a mesma coisa, qualquer que seja o lugar de para onde eu tenha ido nessa cidade. Alívio, superficialidade e fé.

E a merda, pensei um dia depois de ter ido pela Baía e enquanto tomava açaí, é que Salvador não cabe numa colher.

sábado, 12 de setembro de 2009


domingo, 6 de setembro de 2009

Minha casa

Ai, porre... Não dá para acreditar que eu seja puro consumo de energia e oxigênio. Que inferno. No dia que perder a paciência perco a esperança.

Eu não consigo fazer nada enquanto espero. O caso é tomar coragem, parar de gaguejar e parar de esperar.

Saco... saco, tô impaciente.

Minha casa está toda despojada, está toda limpa. Minha casa não está me grudando, sabe? As memórias, afeições, as emoções precisam de poeira, de incorreções para ganharem aderência.
Dentro de minha casa, eu estou esperando. Aí não consigo me grudar em nada. Aqui.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ai, Salvador minha

As pessoas que pulam, pescam, ficam no píer do Forte de Santa Maria são esculturas de geração espontânea. Móbiles. É como se tudo o que as envolve estivesse parado, o vento, os carros, as ondas, o tempo, as nuvens, o calor. São esculturas ao contrário.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

terça-feira, 14 de julho de 2009

Michael Jackson e Joan Baez

Semana passada eu saí com uns amigos que têm elevado nível de prioridade para mim. Quando peguei a chave pra sair de casa senti aquela falta de perspectiva morna que tenho quando vou numa festa de família. Vamo lá.

Surpreendentemente chegamos todos na mesma hora (uma hora depois do combinado). Atravessei a rua e vi quase todos na calçada se abraçando. Daí eu pensei que eram meus. Mas eu não quero falar deles agora.

Ficamos no bar, depois fomos pra outro lugar bailar, tudo no Red River. Buena música, tipos de pessoas já esperadas, nós ficando cada vez mais daquele jeito, eu acho. Cada vez mais livres, eu acho. Pelas tantas tocou Michael Jackson, não pude deixar de fazer aquele condicionado comentário de desprezo pela mídia: tsc... ti-nha que tocar Michael Jackson. Foi uma delícia, mas lembrei que ele tinha virado história.

Aí lampejo. Estive certa que alguém vai sentir em Michael Jackson a mesma saudade melancólica que eu sentia quando ouvia Joan Baez (quando era criança eu achava que Joan Baez já tinha morrido... achava que todo mundo que meu pai ouvia estava morto). Sentia uma tristeza por ter chegado atrasada no tempo. Michael Jackson vai ser Joan Baez para alguém. Aí o tempo tocou em mim. Isso foi o tempo me tocando forte e silenciosamente.
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p.s.: Pra baixar o disco de Joan Baez que eu ouvia lá em casa vai aqui: Gracias a La Vida

domingo, 5 de julho de 2009

Santo Antônio

A descrença é, hoje, impossível pra mim. Longe de ser por determinação filosófica ou fé, acho mesmo que por condicionamento e hábito. E, também, porque algumas crenças me dão prazer e me salvam.

Tinha um boteco perto do CEFET, onde fiz o ensino médio, que ficava no Santo Antônio. De vez em quando, só pra não ir de novo no bar dos Micos, a gente ia pra lá depois da aula, sempre já de noite. Era bom o caminho até lá, porque era muito misterioso. O percurso era muito escuro, e, pouco antes de chegar ao bar, a gente entrava num beco estreito do lado de uma igreja colonial enorme. Adorava o tom de mistério do caminho. Parecia que estávamos caminhando no século XVII e íamos nos bater com Gregório de Matos (li pouquíssima coisa dele, mas sempre penso nele quando me lembro daquele caminho).

Um dos pensamentos que, Deus sabe por que, sempre me vem é o fato de eu não saber qual era exatamente o caminho que a gente fazia do CEFET para o bar. Este me ocorre, sem incomodar, desde que saí do CEFET.

Então, querendo dar certa produtividade ao meu ócio, dentre outros motivos ainda não mencionáveis, resolvi a uns trinta dias que iria tentar refazer o caminho do CEFET até o bar do Santo Antonio, tentando passar pelo beco. Ia fazer o caminho de dia, porque resquícios de prudência me restam e não sou doida de andar sozinha no século XVII.

Eu desci do ônibus em frente ao CEFET e foi inevitável não pensar em mim quando cheguei naquela escola pela primeira vez (acompanhada de minha mãe). Sorri com a boca fechada, cruzei os braços, encolhi os ombros e um sentimento morno e confortável veio. Também me senti pretensiosa e cheia de certezas (!).

Fui descendo pelo Barbalho, sem me preocupar em achar logo a rua que a gente subia pro Santo Antônio. Rua de asfalto sem passeio, carro de fruta, oficina, passeio cheio de carro pra consertar. A ladeira de paralelepípedo que sobe pro Santo Antônio e o ponto onde eu pegava o Duque de Caxias para ir pra casa (só em pensar nesse ônibus me dá sono). Subi o Santo Antônio. Fui indo, fui indo, e, contra o que eu esperava, encontrei rápido a Igreja enorme, o beco, e, fiquei surpresa, o boteco ainda tava lá, com aquela varanda super-estreita. Me veio uma satisfação de dever cumprido. Pronto, fiz, podia colocar o pensamento no bolso e esperar outros.

E aproveitando que estava naquele lugar tão bom de estar, fiquei andando mais um pouco e fui parar, surpresa de novo, no Largo de Santo Antônio. Nunca tinha chegado lá por aqueles caminhos. O Largo estava lotado de gente e carro. Putz, era dia de Santo Antônio! Putz, eu resolvo ir lá no dia de Santo Antônio. Véi...

Fiquei bordejando por lá, cheiro de cerveja, vi o mar, vi o porto, coloquei a cabeça no portão do Forte de Santo Antônio. Passei em frente à igreja, entupida de gente, cativante. Sentei na escada, num lugar com sol porque estava com um leve frio, pra esperar a vontade de ir embora chegar. Fiquei só olhando e julgando quem passava, condescendente com uns e desprezando outros (tenho que parar com isso). Um tempo depois percebi uma coisa e antes de realmente ver e saber o que era, meu braço agiu e pegou. Peguei uma estatuazinha metálica de Santo Antônio, de uns três centímetros, que estava jogada no degrau da escada.

domingo, 14 de junho de 2009

msn

Yo! diz:
muito bom velho, o cara é muito bom
leo, me ajude
please!
.
Leo diz:
uhum uhum uhum

Yo! diz:
to tentada a comprar mac
que é que eu faço
ayudame!!

Leo diz:
hahahahaha
bem, com minha inguinorana em computadores não sou eu quem vai lhe convencer a comprar, com certeza

Yo! diz:
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
MAC DONALDS
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
.
Leo diz:
hauhAUAHAUHAUHAUHAUAHUAHAUHAU
adoreeeeeeeeeeeeei (ow, vergonha )

domingo, 31 de maio de 2009

Trecho da música Bairro Novo/Casa Caiada, da Eddie

"(...)
Todas as cidades ja estão em chamas
Consumidas por um desejo voraz
Quem sabe ainda sobre alguma chance
(...)"
Só uma observação: nesse trecho isolado da música cabe uma interpretação diferente da que há na letra completa.

sábado, 16 de maio de 2009

Segredo

Segredo foi construída no tempo em que os deuses existiam e os homens inventavam coisas. E lá continuam a acontecer histórias isentas de qualquer pressentimento. As histórias das pessoas que vivem em Segredo são crias da imaturidade e das apropriações que todos fazem das expressões alheias. Não sei por que só lá percebi isso.

Segredo te faz descobrir coisas por intuição. E os descobrimentos te dão por volta de três caminhos. Para um novo visitante, como eu, é preciso pragmatismo e um certo esquecimento para passar da melhor forma possível alguns dias lá. E é preciso muito disso para morar em Segredo de forma plena e também satisfatória à sua intuição. Porque se não você se perde numa loucura hedonista e sinestésica...

Segredo já viveu um dia para cada morador. Aquele lugar tem vocação para o ser-humano, o que não deveria ser digno de nota, já que foi o ser-humano que o construiu. Lá, quando você prende a respiração, todo movimento da cidade cessa.

Um amigo também já esteve lá e me explicou algo que não tinha percebido. Ele se propôs viver, um dia, pelas ruas de Segredo. Ele não quis admitir, porque detesta prazeres óbvios, mas o corpo de Segredo seria para ele um deleite de estímulos. Passou um dia segredando na cidade, inventando significados e às vezes prendendo a respiração. E então meu amigo me disse como é fácil odiar Segredo. Porque ela não deixa nada acontecer nada além dela.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Foto!

Veja como nossa cultura pode ser atrasada, obtusa e prepotente. Eu aprendi na escola (suspiro) a ser condescendente com a ingenuidade e falta de conhecimento dos índios que acreditavam que seu espírito (ou algo de si) era aprisionado pelas câmeras fotográficas ou de filmagem que capturavam suas imagens. Tem até histórias da Turma da Mônica que falam disso de modo bastante cândido.

E eu levei uns dezessete anos para entender que os índios tinham toda razão. Eles estavam absolutamente certos.

Faz um tempo que, quando tiro foto de uma pessoa sem o consentimento dela, peço mentalmente e de modo quase inconsciente desculpas. Porque estou me apropriando de parte da identidade de uma pessoa (e sem dúvida do espírito dela) para um uso exclusivamente pessoal e que vai depender das minhas intenções e humores. E estou ficando igualmente constrangida em tirar fotos de coisas que, para estas pessoas, têm forte simbologia. E o pior que muitas vezes são estas coisas que são importantes registrar.

E constantemente estou ficando entre o impulso de me apropriar do que há de mágico em uma pessoa ou de algo que é construção dessa pessoa e o ensinamento de minha mãe dizendo que não se pega o que não é seu. Mas é claro que isso não é um pensamento claro e límpido que me ocorre quando tiro uma foto, é um sentimento indefinido, amorfo.

Outro dia presenciei uma cena que foi um absurdo de insensibilidade e de invasão. Uma mulher, da capital, ia tirar foto com seu celular de uma senhora de um povoadozinho. O celular não tinha zoom, então a mulher aproximou bem o aparelho no rosto da senhora. E, com uma das mãos, ficou ajeitando a posição da cabeça da senhora para ficar bem na foto. Foto tirada, a mulher saiu andando de costas para a senhora. A mulher chegou, não pediu licença, estendeu o aparelho, tocou na senhora do modo que lhe convinha (e no rosto!), e saiu sem olhar mais para a senhora e sem dizer obrigado.

Evidente que já tirei zil fotos de pessoas sem pedir permissão. Mas assim...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Você, que vê do alto, já foi lúcido?
Uuuna!

sábado, 25 de abril de 2009

Eu não queria escrever sobre Lençóis, sobre mais uma viagem. Porque isso tá ficando recorrente demais... Mas escreverei, basicamente porque me apego aos hábitos. E chega de explicações.

A gente foi para Lençóis no escuro. Sabíamos como chegar e onde dormir, mas, eu pelo menos, não fazia a menor idéia do que poderíamos ver além da sede da cidade. Mas foi aquela né?... eu tava lá bebendo uma cerveja, aí um amigo falou: vamo ali em Lençóis? Tô fazendo nada... então vamo, vamo nessa.

Ô cidade bonitinha, meu Deus. Adorável. Não virou uma cidade-puta turística como certas cidades que é dispensável mencionar. Ouvi pessoas dizerem que o turismo é a principal fonte de renda da cidade. Mas, lado a lado com os bares e restaurantes cujas mesas têm toalha de chita su-per-in-te-gra-das à tradição nordestina, há aquelas vendas com balcão de bloco, reparos de cimento não pintados nas paredes, lâmpada com teia de aranha e com prateleira de madeira engordurada, onde estão expostos conhaque, latas de milho verde e estrato de tomate, Pitú, absorvente, sabão em barra azul, arroz, tabaco, caixa de anador, Cortesano...

A rua onde fiquei hospedada, apesar do albergue e das pousadas que lá funcionam, não é mais que uma rua de cidade pequena, com gente conversando pela janela e cujo ritmo e cor das fachadas a tornam mais agradável e aconchegante. Em qualquer canto da cidade havia portas e janelas abertas, às vezes podíamos ver até o quarto de alguém. Isso me lembrou o quanto isso já me foi banal, e como eu, quando criança e vinha pra Salvador, fantasiava que ninguém vivia nos apartamentos, uma vez que não se pode ver o movimento destes através das janelas dos prédios. E eu realmente me espantava quando, da janela do apartamento de meu tio, via um ser-humano passando numa janela próxima. Pensava instintivamente: não é que tem gente lá dentro?

Fizemos aquele passeio que faz a rota dos cartões postais da Chapada. Saímos com uma agência de turismo e, algumas vezes, isso me fez ficar enjoada. A guia falava coisas do tipo: vamos parar em tal lugar, fazemos fotos e seguimos. Tem gente que viaja só para fazer fotos, é? Eu heim... foto não era conseqüência de um passeio? Mas, a pesar do meu preconceito, o passeio guiado foi ótimo. Mas, também, impossível algo ser ruim quando se tem as paisagens da Chapada. Impossível.

A gente foi na Lapa Doce, que é, veja bem, uma gruta e não uma caverna (você sabia que tem diferença entre gruta e caverna? Eu não). Quando fui entrando na gruta me senti indo pro reino de Hades. Adorei! Lá dentro, em determinado momento, todas a luzes foram apagadas e todo mundo ficou em silêncio. Nem de olhos fechados podemos ter uma escuridão daquela, e isso não é força de expressão. E eu me senti excepcional, me senti muito, muito bem. Mas eu teria que estar lá, para tentar escrever o porquê disso.

Depois, avançando na gruta e de novo com luz, entramos num salão que geometricamente nem era tão grande, mas me deu a sensação de ser descomunal. Eu tive, naquele espaço totalmente cerrado, um sentido de imensidão, de coisa inalcançável e de minha insignificância corporal muito mais forte e física do que a vastidão quilométrica do horizonte e do céu que vimos, poucas horas antes, de cima do Morro do Pai Inácio. E isso me intriga deveras.
.
Senti que a Chapada é inesgotável. Essa viagem não me deixou nem um pouco saciada. Quero voltar para rever os lugares que vi (e principalmente o que não vi no escuro da gruta) e de novo voltar para ver os lugares que ainda não fui.

A quantidade de maluco-doido por metro quadrado de Lençóis só é menor do que em Granada. Falo dos viajantes que vivem, aparentemente, da arte que fazem. Se eu fosse antropóloga faria uma tese sobre eles. E se essa tese já existe, adoraria lê-la. O que leva as pessoas optarem por esse tipo de vida? Como vivem exatamente? Me intriga como é possível ter o desapego necessário para viver sem vínculos. Eu, que passo quatro dias numa cidade agradável e já me dói deixá-la.

Tenho duas hipóteses a respeito desses maluco-doidos: a despeito de, novamente aparentemente, serem mais abertos e livres, não é simples alguém se aproximar deles além daquele momento em que eles oferecem a mercadoria. A segunda é que, se eles aparentam aceitar todo modo de vida, acho mesmo é que eles nos desprezam. Talvez porque precisam de pessoas como nós para comprar coisas que pessoas como eles fazem. Talvez sintam até enjôo quando se aproximam de nós.

Juntei o útil ao agradável e, depois de vadiar na Chapada, fiz visitas para ganhar o pão de cada dia em lugares de lá. Precisamente em comunidades remanescentes de quilombos. De fato, a Chapada é inesgotável. Ouvir as pessoas contarem a trajetória da família até ela chegar ali é ver história por dentro. Conhecemos um rapaz que disse ter encontrado um acampamento de garimpeiros do período áureo da extração de diamantes e também pinturas rupestres desconhecidas. Claro que isso pode ser história de pescador, mas eu adoro imaginar que isso de fato aconteceu.

Acho que vou começar a colecionar os jeitos que as pessoas têm de dizer as coisas. Veja essas que ouvi lá e que me lembro: dismintidor: qualquer coisa pra colocar o osso que você torceu no lugar; bramura: brabeza; filho de pegação: criança que você fez o parto; viaja mais que pensamento ruim: sem tradução.

Para terminar, porque a preguiça me já me afeta: ir nesses povoados do interior é ponderar o que de fato é necessário para viver. É ver como é incabível o tanto de lixo que a gente produz para comer, por exemplo, uma oferta na Mcdonalds. Nós somos muito doidos, muito estranhos... fico pensando no tanto de energia humana e material gasta pra fazer um shopping. Pra que isso tudo que rodeia a gente, meu Deus?

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Uma Cafetina

Vou contar o que soube de um menino de verdade. Ele era magro, branco, loiro e tinha cabelo liso. Mas desfaça essa imagem porque ele era feio... não exatamente feio, mas daquele jeito que não agrada.

Ele me chamou a atenção porque o vi, ainda muito pequeno, indo para a escola sozinho. É raro um menino tão branco ir para a escola só. E também porque ele andava gesticulando descoordenadamente a cabeça, o rosto, as mãos, os braços e as pernas. E geralmente com as sobrancelhas contraídas. Algumas vezes parecia que ele estava conversando com alguém.

Eu fui levando a faculdade (e vice-versa) e ele ficando alto, sempre muito rápido. Os olhos dele olhando para todos os lugares ao mesmo tempo, não se fixavam em nada. Às vezes os meus olhos também.

Eu pensava comigo que aquele menino não devia valer nada. Mas isso no sentido figurado, não interprete mal. Ele tinha cara que aprontava todas.

De fato.

Ontem um amigo me disse que ele foi assassinado por policiais. Ele me contou a história de um documentário. Mas outrora descobri e agora reitero que pobreza não é documentário. Desgraça menos ainda.

Meu amigo me disse que ele era filho de uma prostituta que morreu de AIDS. Quando o vi pela primeira vez é possível que ele já fosse órfão. Uma cafetina ficou então tomando conta dele. E ninguém espera nada venturoso de alguém com essa história, a não ser que se trate de um provérbio ou de uma parábola.

Nessa história, que tangenciou a minha, o menino resolveu ir no máximo que a desgraça lhe estava reservada. Se a desgraça era para ele, que ele fosse dominado por ela. O caso era abraçar o diabo, ser bróder dele e, evidente, sacaniá-lo quando possível.

O guri começou a fazer estripulias mesmo. Já não me lembro a ordem das coisas que meu amigo me disse... Tinha cara de muito criança, aí começou a ajudar os meninos mais velhos a roubar, levando uma arma para dentro do lugar a ser roubado. Como, infelizmente, não é de se espantar, começou a traficar também. Mas devia ter nada de disciplina, não conseguiu pagar a droga que tinha comprado pra revender. Virou caça fácil. Nas tentativas que os traficantes maiores fizeram para matá-lo ele conseguiu fugir. Mas do policial... levou tiros. Todos tiveram escolhas. Estas, levaram a uma história assim.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Tava voltando pra casa, atravessando o Corredor da Vitória, o que sempre me é muito agradável, mesmo depois de um dia quente. Tava quase chegando ao fim da Vitória e vejo dois porteiros, ambos de colete à prova de balas. Afe, que é isso?..

Mas fui seguindo, recuperei meu pensamento e fui seguindo. Meia dúzia de passos depois reparo num prédio que para entrar é preciso passar por dois portões. A criatura entra e fica entre dois portões antes de entrar no prédio. Fica numa jaula, na verdade. Purra!.. Que é isso?...

Porém eu sou otimista. Acho mesmo é que o colete é para justificar o preço da empresa de segurança. E uma pitada de marketing pessoal. Da jaula... maluquice, ora.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Puta dignidade!

A frase de Proust (lê abaixo, pra saber o porquê da citação):
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"Para quem ama, não será a ausência a mais certa, a mais eficaz, a mais intensa, a mais indestrutível, a mais fiel das presenças?"

terça-feira, 17 de março de 2009

Cidades (na falta de título melhor)

Cruz das Almas é meu parafuso. Eu odeio Cruz das Almas, odeio. Eu amo igual, igual. Eu sou de Cruz das Almas é uma expressão de posse, não? Faz tempos que ando por essas coisas. Eu engoli, engulo pra regurgitar. (pior que eu acho essas questões com a terra natal démodé e muito freudianas).

Não estou mais agüentando Cruz das Almas. Mas eu gosto tanto, é tão bom pensar em lá. Para acabar logo com isso, Cruz é posse minha porque sou saudosista e tive muita infância. Basicamente só por isso, até segunda ordem. E eu já odeio essa cidade, que me amarga a boca, porque ela me encerra, me tranca. Arh...

Mas, para falar de Cruz, é preciso:

Tem um lugar no mundo que é mais meu do que de qualquer pessoa. A Roça é minha porque me teve e me respirou longe. O lugar é uma respiração. Uma série de respiração em ritmo compassado com pensamentos que acontecem, desfazem-se e são infixáveis. O único lugar devassado onde nada me vê e eu vejo muito longe. É minha bola de vidro, só falto voar. Nenhum lugar faz o silêncio que a Roça faz. Aquele lugar é muito meu também porque se transformou em depósitos de memória muito pouco visitados. É um santuário que adquire importância por ser pouco visto.

O que eu digo é que a Roça é o que mais tenho de meu, o que é muito, mas muito meu, porque vou muito pouco lá. Eu só tenho, sinto que é meu de fato, o que não está comigo. Lembrei de uma frase, de Proust acho, cuja idéia é: não há presença mais viva do que a daquela pessoa que está longe de você (evidente que ele o disse de modo muito mais digno).
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Parece que, na Roça, é possível ser. Como o silêncio é.

Salvador, enquanto estou aqui, não é nada, é um gás que eu respiro e me sinto, digamos, inteira e solúvel. Salvador só vai ser eu quando estiver longe, longe, longe.
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E Granada... Granada é minha licença poética.

E ultimamente está sendo desagradável visitar a cidade de Cruz das Almas. Ela não me deixa, é uma... não é memória nem presença, é uma saudade inviável, uma saudade que não vai se realizar. A Roça, é uma saudade no santuário, está lá para um dia (que virá) ser o que foi quando me respirou. Ou melhor, está lá para me lembrar o que me construiu. Salvador, veja, é onde estou, não há o que querer trazer de volta. Salvador só vai ser saudade e memória (como Cruz ou como a Roça) quando eu sair daqui, mesmo que eu viva 70 anos nessa cidade. Saudade só existe nas interrupções, nas mudanças, nos lapsos dos acontecimentos. Saudade não é percurso.

sábado, 14 de março de 2009

Trechos de "O Livro Negro", de Orhan Pamuk

"(...) Galip se perguntava o quanto uma pessoa conseguiria mudar só contemplando o mapa de uma cidade onde nunca tivesse posto os pés."
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"Depois de desligar o telefone, Galip abriu o mapa da cidade para localizar o projeto habitacional de Güntepe. Ficara perplexo, mas não estupefato a ponto de tornar-se outra pessoa, como desejaria (...)"

terça-feira, 3 de março de 2009

Alívio

"Não acredito que realmente comece a pensar até que me sento a escrever”
Alan Poe

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Filosofias carnavalescas e outras chuchuflefas

Tá todo mundo confiando em Obama
Mas...

Se rebolar, não derrame.

Sou gostosa, estou a turismo e me adapto a qualquer tipo de beijo (do ano passado mas vale).

Adoro ponte!


Eu gosto de gente de Salvador comprando CD na minha loja.


(em construção e aceito sugestões)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

[respiro]

O que você consegue dizer de uma cidade? Você consegue dizer, sem peso nenhum, “gosto ou não gosto” de tal cidade? Não consigo. Posso dizer de umas poucas cidades (na verdade só de duas, pelo que eu me lembro) não gostei, mas assim de um modo amarrado, cheio de atritos. É mais fácil dizer que não gostei de alguém do que de uma cidade. Às vezes dominar uma cidade desconhecida é mais difícil que conhecer uma pessoa. Aliás, não se domina uma cidade desconhecida. Tsc...

Meu querido amigo, fui recentemente a certos lugares cheios de coisas fáceis de serem criticadas, cheios de fáceis elogios. Vamos a eles.

Porto Seguro... Porto Seguro é uma cidade idiota, até onde eu pude ir. Mas, também, ela não me deu oportunidades de ir muito além, sei lá de quem é a culpa.

Por exemplo, a tal rua Passarela do Álcool, que já é um nome pra chicleteiro ver. Fosse uma rua qualquer na cidade vá lá... Mas pense numa orla de ruas largas, pavimento de paralelepípedo e casas coloniais geminadas. Tudo pra ser um lugar bucólico, aconchegante. Mas pense nas fachadas dessas casas pintadas com cores berrantes e com zil propagandas de letras fluorescentes, tipo cartaz do Bom Preço. Pense num corredor formado pelas mesas nada convidativas em frente a essas casas e pelas barracas de feira vendendo lembrancinhas infames (quem é que compra garrafa com caranguejo dentro??).

Cruzamos duas vezes a passarela e nada de um lugar agradável pra tomar alguma coisa. Eu nem estava tão exigente, mas eram umas mesas de design com personalidade demais pra mim. Eu só queria um bar com mesa de plástico.
A gente passeou um pouco por dentro da cidade, fora do que a cidade tem pra vender. E aí, pasme, Porto Seguro é uma cidade como outra qualquer. Capaz até de ser agradável, se você estiver disposto. Mas a verdade é que estávamos esperando noites cheias de surpresas como no sertão, e em Porto Seguro não achamos isso em qualquer buraco. Lá tem que ir às barracas ultra-mega modernas (mas com um jeitinho bem baiano, claro). Eu até tento viver o lugar sem esperar que ele seja de determinada maneira, mas, talvez tenha percebido, não estava disposta.
Tínhamos que visitar uma área lá em Porto Seguro. Aí entramos em contato com quem de direito para ir até lá nos apresentar a área. Acontece que alguém brincou de telefone sem fio e, quando chegamos lá, achavam que Maria (fomo juntas nessa viagem) era a superintendente! Minha mão foi na boca pra disfarçar o riso!! E, quando eu vi, tinha câmera, monte de gente falando, fotógrafo, eu tentando não rir... Velho, que situação... E quando chegamos no terreno, quando eu olho pra trás tinham 11 carros (óbvio que eu contei!) e uma comitiva de gente! Só faltou banda de música. Olhei pra Maria, fiz minha “cara de coerência” (Cordeiro, Lira, 2008) e segui em frente, fazer o que??

A gente foi também em duas comunidades indígenas, Coroa Vermelha, em Santa Cruz de Cabrália e Aldeia Velha, em Porto Seguro. Juro que no início, quando soube que ia visitar esse tipo de comunidade, imaginei, no mínimo, habitações em volta de um círculo. Ignorância, eu sei. Eles vivem é como qualquer povoado do interior, com a diferença que o turismo é seu principal meio de renda.

As pessoas da comunidade que estavam conosco tinham o discurso ecológico consolidado, como todo mundo. Falo discurso porque não tive tempo de ver como era a prática lá. Porque a prática, no meu mundo, você sabe como é... Eles também estão preocupados em fazer algo que agrade aos turistas. “A gente faz umas casinhas iguais assim, pro turista chegar, achar bonito...”.
A quantidade de frutas e flores que crescem no quintal e na frente das casas deles é uma delícia. Cacau, graviola, caju, jaca, jambo, jenipapo, coco, amora, abacaxi e duzentas outras coisas que eu não sei o nome. E quando me lembro daquelas redes embaixo da sombra... meu deuso... Tive a impressão de que, se a morada deles fosse decente e eles não tivessem que se preocupar tanto com os turistas, o lugar seria perfeito. Olhe, Arnaldo Antunes tem toda razão... os turistas estragam todos os lugares.

Eu quase não fiz elogios, não foi? Ah, mas assim, fazer elogio fácil é muito chato... fica parecendo propaganda da CVC...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Hoje eu tinha umas coisas pra falar... como tinha sido o rapel, que "mais belo dos belos" não é slogan, é fato, de Iemanjá que nos envolve quando estamos praticando a descrença (impossível eu não acreditar em nada em Salvador, embora tente de vez em quando). Mas amanhã viajo, não tenho tempo de escrever devidamente sobre essas coisas, e provavelmente vou voltar com outras vontades...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Inércia

Ele estava sentado em baixo da escada, abraçando as canelas, joelho na altura do peito. Estava respirando, cabelos cacheados, barriga de tempos em tempos tocando na coxa. O problema, o que o esperava, era sentir a hora de levantar. Ia pensando, cabeça com caracóis de lado.

O problema é ele precisar ter vontade, as coisas terem tantas delícias, as pessoas terem tantas palavras, as bocas tantas salivas. O problema, mesmo, é o pé ficar dormente. Aí ele levantava.

É... levantava sem nada que pudesse ser adiado. Tudo era para ter sido feito, pelo menos desde a manhã. Foda-se. Colocava a mão no bolso e saía, o que era muito bom. A merda é que a mão não cabe no bolso por inteiro.

A ingenuidade dele, a burrice, é ele imaginar que era um personagem, igual ao personagem de um livro que leu e detestou. Na casa dele não tem nem escada, ora.

Aí ele foi para a despensa. Estava mesmo precisando de penumbra e solidão. E o desgraçado nem sabia disso. Um tolo que nem sabia. Ser no escuro é a melhor coisa que tem, é um prazer contínuo e contido, ou um dos dois. O negócio é ser devagazinho. E o escuro não deixa ver o que já foi riscado. É estimulante.

Ele com a mão no bolso, enfim, estava muito bem para quem precisa respirar. É certo que se escondia deveras, principalmente quando tinha que sair a sol pleno. Mas surpreendentemente ele aprendeu que, se se concentrasse na bendita respiração, ele até podia passar incólume.
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[cadê o final?]

domingo, 11 de janeiro de 2009

O menino

Isso foi na semana passada...

Estava numa hora de hedonismo fundamentado, visões já daquele tipo e certos sentidos e intenções aguçados. Um homem qualquer (porque pra nós era qualquer mesmo, sejamos francos) pedia dinheiro. Até aí nada, porque era nada mesmo, para nós. Mas ele tinha um menino no ombro. Lindo, lindo, o menino estava com a cabeça deitada na cabeça do homem, e nem olhava para nós, porque nele éramos menos que nada mesmo. Olhava para o céu, para além de tudo que podíamos ver, ele olhava contemplativo e calmo para lá de tudo que o rodeava. O menino é um poeta e me hipnotizou.

O homem não recebeu dinheiro de nenhum de nós, se afastou. No mesmo momento o menino se pôs ereto e olhou objetivamente para frente, reto. O menino era príncipe, era dono, era um lúcido. Nossa!...

O homem começou a pedir dinheiro noutra mesa, de novo com a mão estendida. O menino, não teria mais de quatro anos, cobriu todo o rosto com o gorro azul que tinha na cabeça, como fazem os bandidos. Isso foi muito rápido, só pude soltar um “zorra!”. Mais rápido, o menino, depois de cobrir o rosto, puxou uma arma de brinquedo do tamanho do braço dele, não sei de onde, e apontou para o que estava abaixo dele. Porque tudo estava abaixo dele mesmo. Eu não consigo dizer o que era o menino. O que era isso??

Eu não inventei isso, mas não posso acreditar ter visto sequência tão clarividente.

domingo, 4 de janeiro de 2009

COFFEE TABLE BOOKS?

Não entendi o quadro "arquitetura e decoração" ... me explica aí, vá...

Agenda

Rapaz... tô quase importante mesmo...

Pela primeira vez ganhei agenda, vejam só... Me acharam merecedora de ganhar agenda, ora essa.

Curioso.