terça-feira, 23 de setembro de 2008

Saneamento básico

Estava pensando em fazer um pequeno comentário sobre como anda o saneamento básico dos municípios da Bahia. Ia fazer uma constatação em números (o que sempre chama mais a atenção) do que todo mundo sabe.

Ia fazer o comentário, mas e aí? É algo que está muito fora de mim para ser escrito (não interprete isso como falta de solidariedade). Surpreenderam-me muitos os números de saneamento dos municípios baianos. Mas eu queria mesmo escrever algo doloroso, de pele esfolada e ardida.

Estou considerando a possibilidade de acreditar em nada. A dúvida já me cansa, vou iniciar experimentos com a descrença, que talvez seja menos idiota e limitada que a certeza. Se a dúvida é um privilégio, a angústia também é. E, especialmente no que diz respeito a mim, duvido de tudo, inclusive do meu caráter.

Ademais, frases como “acredito no país”, “acredito no ser-humano”, “acredito no conhecimento” e suas derivações nunca fizeram, verdadeiramente, sentido para mim. O fazem pra você?

Dos 383 municípios baianos que constam na pesquisa do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 62 (16%) têm rede coletora de esgoto. Destes, em não mais que 9 o saneamento chega a mais de 50% da população, sendo que a cidade com maior índice de atendimento é Itapetinga, com 87% da população atendida. Os dados são disponibilizados no site http://www.snis.gov.br/.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Eu realmente detesto o Cabula... Contra a minha vontade, mesmo. Aqueles restaurantes de comida por quilo dos mini-shoppings cor-de-rosa, a entrada do 19° BC, a confusão do Bom Preço, a parede azul e branca do Colégio Ômega, a Uneb... Hugh! Detesto aquela avenida pela qual se chega à Uneb.

Por meses passei pela Silveira Martins num estado de indisposição sufocado pelo pensamento de que isso ia passar. Aliás, como tudo o que me incomoda. De manhã passava pela avenida num sono que me paralisava os músculos e fazia minha cabeça doer porque a aula na Uneb começava às 7:30. De tarde, calor me detonando, aumentando minha fome, ônibus cheio e uma hora até chegar em casa, engolir comida e ir para a faculdade de arquitetura. Como previsto isso passou, pois que deixei a Uneb, o que, além de aumentar minha culpa social, paralisou na minha boca aquela indisposição quando passo pela Silveira Martins.

Mas no sábado meu objetivo não era a Uneb, era o que estava atrás dela, a Engomadeira. Antes de aí chegar, tive do alto a perspectiva da Estrada das Barreiras, onde pude ver até longe, o que me fez respirar fundo e sentir bem. Vi sujeira, desorganização, cores encardidas. Pergunto-me agora, de um modo desestruturado, acerca do que é bonito numa cidade. O panorama não era bonito, mas era agradável. Agradou-me. Era bonito de uma maneira que me expandiu. Ai meu Deus, minha cabeça está pedindo que eu busque noções do belo, mas não sei se vou ter saco de ir além do Google. Mal de minha geração.

Primeira à direita, Engomadeira. Carro, carro, gente5, farmácia10. Passou um carro da polícia, gostei, mas, logo, rhum... sei não... isso daí...

Fui seguindo a rua, movimento diminuindo, entrei em algumas ruas locais, apenas naquelas onde podia ver crianças, senhoras ou roupas na varanda. Numa dessas ruas, uma mulher, cigarro na mão e barriga de fora, disse "não-sei-que-lá polícia". Rhum... Passei em frente ao que me pareceu serem dois terreiros. Todo lugar que me prometia ver um verde ou um panorama do alto ou que faltava um pedaço, me atraía. Mas não pude ir a 1/3 deles.

Saí de uma das ruas locais, voltando à Rua da Engomadeira, para então pegar o caminho da roça (ainda se diz isso?). Antes entrei num mercado para comprar água (R$0,30 o copinho, nunca vi tão barato!). O caixa deixou meu pedido no ar e saiu com semblante sério para ver dois carros de polícia que tinham passado. Só ouvi uma pergunta dispersa: “fechou a rua?”. Quando ele voltou não estava com cara de que me responderia alguma coisa, então peguei a água e saí. Vi que os dois carros haviam fechado uma rua transversal à Rua da Engomadeira. Mas, excluindo a presença dos policiais, todo o restante estava normal, talvez aparentemente. Entrei numa farmácia (tava mesmo precisando de manteiga de cacau) e o vendedor era dos que gostava de falar sobre o que o rodeia. Disse que há cinco dias um policial tinha sido assassinado ali pertinho e que os policiais estavam procurando traficantes. Disse também que ali não havia assaltos, mas tinha briga de traficantes. Ai meu Deus... Deixei o dinheiro da manteiga e segui o caminho da roça. Olhe, só digo uma coisa: “Deus protege os bêbados, as criancinhas e os distraídos” (Leo, 2008).

Ah!, quando chego na Rótula do Abacaxi, percebo que a manteiga de cacau tinha ficado na farmácia.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Digníssimas senhoras da Graça

Ai ai... as digníssimas senhoras da Graça. Eu as vejo e imediatamente me vem à cabeça a frase, num modo de constatação: digníssimas-senhoras-da-Graça. Sempre foi assim, desde que estou em Salvador. Passaram-se os anos e confirmei cabalmente que não existem as digníssimas senhoras da Pituba ou de Brotas, por exemplo. Isso não quer dizer que as senhoras destes bairros não sejam dignas, absolutamente.

Mas estas digníssimas senhoras da Graça... perdoe a repetição, mas não dá para não fazê-lo. Certamente eu ia perder ponto no vestibular. Não sou propriamente curiosa a respeito delas, mas sei lá, por que só as vejo aqui? Elas são para mim um emblema movente, aparecem e magnetizam minha atenção como nenhum outro tipo. Talvez porque só existam neste reduzido espaço de Salvador e por eu não ter podido, a força de sempre ter morado na Graça desde que saí de Cruz, identificar o tipo que só existe no Cabula ou na Paralela. Se bem que agora na Paralela não vivem tipos, só atores da Globo. Aliás, parece mesmo é que na Paralela todos os edifícios estão vazios. Bem, isso não é para agora.

Voltando: estas muy dignas senhoras andam de ônibus, a pé ou de motorista com a mesma inflexível compostura horizontal. Porventura pertencem a famílias ricas ou se casaram com rapaz remediado e desde os anos 70 cozinham o tempo. Para algumas destas senhoras Paripe é um balneário fora de moda há muito tempo. Para outras é muito complicado chegar lá, dizem que tem que pegar a BR.

Me parece (menos um ponto na redação) evidente que nunca trabalharam fora de casa. Porventura foram discretas ativistas políticas, de cultura um pouco superior à média soteropolitana e atentas a modismos um tanto extravagantes. Passado o tempo casaram-se, como é de praxe, e acharam lindo quando o filho entrou para o Grêmio do Vieira.

Nunca usam jeans. Normalmente usam calça ou saia sem estampa, em tom pastel, e camisa estampada com grandes figuras. Usam bijuterias douradas, às vezes dourado e preto, muita base, cabelos pintados imóveis e muito esticados para trás. O porquê de não usarem tintura em tons escuros eu não sei. As mais determinadas usam grandes óculos de sol e grandes unhas vibrantes. Essas sim sabem dar ordens a quem restou para ouvi-las.

Evidente que senhoras de outros cantos de Salvador vestem-se assim. Mas a combinação desta indumentária com um seguro ar de superioridade, com uma altivez que só se sustenta pela memória e com um semblante que traz um calmo orgulho de algo que se perdeu nas quinquilharias que guardam em casa, isso meu caro, só nas digníssimas senhoras da Graça. Pegue o ônibus Graça-Praça da Sé ou passe na Farmácia Santana e veja. Ou talvez não... faz tempo que eu não vejo uma digníssima senhora. Ademais, depois que escrevi, já não sei quem são as digníssimas senhoras da Graça.

terça-feira, 2 de setembro de 2008


Passagem de ônibus Cruz das Almas-Salvador: R$ 17,00 em valores atuais. 12 anos de estudo na capital: R$ 50.000,00 em valores chutados. Encontrar grande amiga para te ensinar a fazer barquinho de papel: não tem preço.