domingo, 31 de maio de 2009

Trecho da música Bairro Novo/Casa Caiada, da Eddie

"(...)
Todas as cidades ja estão em chamas
Consumidas por um desejo voraz
Quem sabe ainda sobre alguma chance
(...)"
Só uma observação: nesse trecho isolado da música cabe uma interpretação diferente da que há na letra completa.

sábado, 16 de maio de 2009

Segredo

Segredo foi construída no tempo em que os deuses existiam e os homens inventavam coisas. E lá continuam a acontecer histórias isentas de qualquer pressentimento. As histórias das pessoas que vivem em Segredo são crias da imaturidade e das apropriações que todos fazem das expressões alheias. Não sei por que só lá percebi isso.

Segredo te faz descobrir coisas por intuição. E os descobrimentos te dão por volta de três caminhos. Para um novo visitante, como eu, é preciso pragmatismo e um certo esquecimento para passar da melhor forma possível alguns dias lá. E é preciso muito disso para morar em Segredo de forma plena e também satisfatória à sua intuição. Porque se não você se perde numa loucura hedonista e sinestésica...

Segredo já viveu um dia para cada morador. Aquele lugar tem vocação para o ser-humano, o que não deveria ser digno de nota, já que foi o ser-humano que o construiu. Lá, quando você prende a respiração, todo movimento da cidade cessa.

Um amigo também já esteve lá e me explicou algo que não tinha percebido. Ele se propôs viver, um dia, pelas ruas de Segredo. Ele não quis admitir, porque detesta prazeres óbvios, mas o corpo de Segredo seria para ele um deleite de estímulos. Passou um dia segredando na cidade, inventando significados e às vezes prendendo a respiração. E então meu amigo me disse como é fácil odiar Segredo. Porque ela não deixa nada acontecer nada além dela.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Foto!

Veja como nossa cultura pode ser atrasada, obtusa e prepotente. Eu aprendi na escola (suspiro) a ser condescendente com a ingenuidade e falta de conhecimento dos índios que acreditavam que seu espírito (ou algo de si) era aprisionado pelas câmeras fotográficas ou de filmagem que capturavam suas imagens. Tem até histórias da Turma da Mônica que falam disso de modo bastante cândido.

E eu levei uns dezessete anos para entender que os índios tinham toda razão. Eles estavam absolutamente certos.

Faz um tempo que, quando tiro foto de uma pessoa sem o consentimento dela, peço mentalmente e de modo quase inconsciente desculpas. Porque estou me apropriando de parte da identidade de uma pessoa (e sem dúvida do espírito dela) para um uso exclusivamente pessoal e que vai depender das minhas intenções e humores. E estou ficando igualmente constrangida em tirar fotos de coisas que, para estas pessoas, têm forte simbologia. E o pior que muitas vezes são estas coisas que são importantes registrar.

E constantemente estou ficando entre o impulso de me apropriar do que há de mágico em uma pessoa ou de algo que é construção dessa pessoa e o ensinamento de minha mãe dizendo que não se pega o que não é seu. Mas é claro que isso não é um pensamento claro e límpido que me ocorre quando tiro uma foto, é um sentimento indefinido, amorfo.

Outro dia presenciei uma cena que foi um absurdo de insensibilidade e de invasão. Uma mulher, da capital, ia tirar foto com seu celular de uma senhora de um povoadozinho. O celular não tinha zoom, então a mulher aproximou bem o aparelho no rosto da senhora. E, com uma das mãos, ficou ajeitando a posição da cabeça da senhora para ficar bem na foto. Foto tirada, a mulher saiu andando de costas para a senhora. A mulher chegou, não pediu licença, estendeu o aparelho, tocou na senhora do modo que lhe convinha (e no rosto!), e saiu sem olhar mais para a senhora e sem dizer obrigado.

Evidente que já tirei zil fotos de pessoas sem pedir permissão. Mas assim...