sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Trechos do livro "Istambul. Memória e Cidade" de Orhan Pamuk

"... porque qualquer coisa que digamos sobre a essência da cidade fala mais sobre as nossas vidas e o estado de espírito de cada um. A cidade não tem outro centro que não nós."

"Por que podemos esperar que uma cidade nos cure das nossas dores espirituais? Talvez porque não consigamos deixar de amar a nossa cidade como se fosse uma família. Mas ainda precisamos decidir que parte da cidade nós amamos, e inventar uma razão para tanto."

Chupe essa manga!

Grifo meu.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Quando se está imerso num sentimeno ele é certamente infinito. Mas se sabe, acho, que é superável.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Menos de dois reais

Desespero. Pequeno, preto, em osso, cabeça numa direção, olho na outra, peito apressado, convulsivo. Desespero desaguou em mim, minhas mãos e conjecturas nos bolsos, depois de cinco palavras. O desespero e o medo dela não agüentaram cinco palavras. Como vou pro Campo Santo? Vai de ônibus? Olho baixa, não tenho. Graça – Campo Santo, não articulo pensamento, vou colocar a senhora num ônibus, vou pro ponto errado. Se acalme, se acalme, minha voz tinha que sair firme e segura. Mas eu tremendo. Pés dela todo partido, andou o dia todo, eram quase dez da noite. Meu filho sem comer. Chorando sem compasso. Pedi informação à moça, fugiu – como se eu fosse um bicho – a voz dela apertada, ela sem entender, eu confusa. A senhora conhece Salvador, ela pergunta. Sim, reticente. Além do SAMU, da polícia, do Corpo de Bombeiros, que, que, quem pode fazer o transporte do meu filho? Meu estômago. Vou ligar pra minha prima. Primo? Não pode levar de ônibus? Motorista não deixou, poblema renal, nasceu com isso, Roberto Santos, tenho que ir pra Laaapa e da Lapa pegar o Carbula. Ai meu Deus, ponto errado, vamos pro outro. Mão no queixo, meu filho sem comer desde ontem. Desde ontem! Passar por uma dessa em Salvador, meu filho sem comer e eu sem ter o que dá. Voz baixa, espremida. Tapa na minha cara, corte na minha cara, pobreza não é documentário. Quanto tempo em Salvador, tá na casa de quem? Minha cooperativa me ajuda, balança a cabeça negativamente. Seis semanas, vou embora semana que vem, eu to numa casa duma... Quem não tem nada faz o que em Salvador?, catei lata ontem, fiquei com noventa centavos, aí dei um kisuco com... pra ele, depois me disseram que não podia dar... Merda!, ela deu Kisuko, ele doente dos rins, merda merda merda... e eu? Eu nada. Merda merda merda. Seu ônibus, chegando no Campo Santo sabe ir pra casa? Seei, chegando no cemitero... Ônibus pára, pego o dinheiro no bolso, vergonha, tinha nem quatro reais, dois era pro ônibus ... ... ... Dou as moedas, menos de dois reais, e isso foi horrível... A porta fecha, viro pra minha casa, na mesma hora o céu dá uma pancada nas minhas costas, atravessa o peito, cai no chão, minha cabeça baixa. Menos de dois reais. Menos de dois reais. Não usei o SmartCard, merda. Trazer em casa, dar alguma coisa, depois ir pro ponto... Merda.

Tudo o que eu tenho é fútil.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Fui na Mata Escura e voltei de mãos quase vazias. Merda!...

domingo, 17 de agosto de 2008

Comprei jornal por quase nada, o pus sob o braço, coloquei as mãos nos bolsos da calça, curvei e encolhi os ombros de uma maneira incomum, pendi a cabeça mirando entre o chão e quase a direita, sorri sem mover os lábios e, quando dei o terceiro ou quarto passo, algo se passou e estou entre a angústia de não saber o que, apenas sinto o que foi, e o medo, grande, de perder ou esquecer o que foi.
Pavor de assumir minha liberdade e o caminho que meu estômago deseja.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

E isso é só a publicidade...

Agora me vêm querendo enfiar goela abaixo uma coisa falando “Salvador” com sotaque! Me faça uma garapa! Não sou regionalista, mas pelamordedeus... Releve minha ignorância, mas o que é que se ensina no curso de publicidade? Faz favor de insultar minha cidade de forma menos idiota. Podiam pelo menos ser coerentes e fazer um elaborado e requintado insulto, algo assim, cheio de charme e sofisticação.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Mercado

Sinal dos tempos: Sanane comprando coisas verdes no mercado. Para consumo próprio, não era Sprite. Esse mundo tá de cabeça pra baixo...
Realidade colidindo: alface crespa, americana, hidropônica... Hã?!?

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Sobre livros

É realmente incrível como os livros nos vêm na hora que precisamos. Tenho lido livros que cabem no que estou vivendo. Posso acreditar que seja coincidência. E posso também pensar que nos fixamos, emocionamos e pensamos mais nas passagens que nos convém, a depender do que estamos vivendo. Pode ser que lemos sempre a partir do que estamos vivendo. Assim, posso pensar que um livro não são histórias ou pensamentos fixados (ou congelados) no tempo pelo autor. Um livro sou eu e o autor, os anseios dele e o meu. Não sei se há um que se sobressaia.

Pensei isso porque li uma passagem que me emocionou como há muito não acontecia por causa de um livro. Vi que sou normal! Pelo menos de longe.

Talvez por coincidência, depois que pensei nisso, vi uma citação de Paul Ricoeur pendurada numa banca de revista: “compreender é compreender-se diante do texto”. Não sei em que contexto o filósofo escreveu isso, mas diga se não é verdade.

Quase todos os livros que li não eram meus, me foram emprestados. De um ano para cá, quando ganhei e comprei uns primeiros, achei muito estranho pensar que não teria que devolvê-los. Até hoje não tive coragem de colocar meu nome em nenhum deles. É estranho dizer que um livro é meu... assim, é estranho ver ele estático numa prateleira.

A única coisa que você (ou pelo menos eu) consegue possuir de um livro é o que sente e consegue fixar a partir de alguma transformação que lhe acontece. Alguns livros me fazem sentir muito, mesmo. Para não perder, ou pelo menos prolongar, esse sentimento, principalmente quando se trata do sublime, tento fixá-lo em coisas da minha vida. Expectativas, emoções, cheiros, entendimentos. Tento fixar o sentimento evocado de minha vivência.

sábado, 2 de agosto de 2008

Ontem fui no Largo da Madragoa. Daí: posto de gasolina são elementos de repulsão; mercadinhos de bairro aberto fazem-me sentir segura; ruas de paralelepípedo são muito pessoais; mini-shoppings de bairro são vulgares. Dentre outras coisas, claro.