segunda-feira, 11 de maio de 2009

Foto!

Veja como nossa cultura pode ser atrasada, obtusa e prepotente. Eu aprendi na escola (suspiro) a ser condescendente com a ingenuidade e falta de conhecimento dos índios que acreditavam que seu espírito (ou algo de si) era aprisionado pelas câmeras fotográficas ou de filmagem que capturavam suas imagens. Tem até histórias da Turma da Mônica que falam disso de modo bastante cândido.

E eu levei uns dezessete anos para entender que os índios tinham toda razão. Eles estavam absolutamente certos.

Faz um tempo que, quando tiro foto de uma pessoa sem o consentimento dela, peço mentalmente e de modo quase inconsciente desculpas. Porque estou me apropriando de parte da identidade de uma pessoa (e sem dúvida do espírito dela) para um uso exclusivamente pessoal e que vai depender das minhas intenções e humores. E estou ficando igualmente constrangida em tirar fotos de coisas que, para estas pessoas, têm forte simbologia. E o pior que muitas vezes são estas coisas que são importantes registrar.

E constantemente estou ficando entre o impulso de me apropriar do que há de mágico em uma pessoa ou de algo que é construção dessa pessoa e o ensinamento de minha mãe dizendo que não se pega o que não é seu. Mas é claro que isso não é um pensamento claro e límpido que me ocorre quando tiro uma foto, é um sentimento indefinido, amorfo.

Outro dia presenciei uma cena que foi um absurdo de insensibilidade e de invasão. Uma mulher, da capital, ia tirar foto com seu celular de uma senhora de um povoadozinho. O celular não tinha zoom, então a mulher aproximou bem o aparelho no rosto da senhora. E, com uma das mãos, ficou ajeitando a posição da cabeça da senhora para ficar bem na foto. Foto tirada, a mulher saiu andando de costas para a senhora. A mulher chegou, não pediu licença, estendeu o aparelho, tocou na senhora do modo que lhe convinha (e no rosto!), e saiu sem olhar mais para a senhora e sem dizer obrigado.

Evidente que já tirei zil fotos de pessoas sem pedir permissão. Mas assim...

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