Ele estava sentado em baixo da escada, abraçando as canelas, joelho na altura do peito. Estava respirando, cabelos cacheados, barriga de tempos em tempos tocando na coxa. O problema, o que o esperava, era sentir a hora de levantar. Ia pensando, cabeça com caracóis de lado.
O problema é ele precisar ter vontade, as coisas terem tantas delícias, as pessoas terem tantas palavras, as bocas tantas salivas. O problema, mesmo, é o pé ficar dormente. Aí ele levantava.
É... levantava sem nada que pudesse ser adiado. Tudo era para ter sido feito, pelo menos desde a manhã. Foda-se. Colocava a mão no bolso e saía, o que era muito bom. A merda é que a mão não cabe no bolso por inteiro.
A ingenuidade dele, a burrice, é ele imaginar que era um personagem, igual ao personagem de um livro que leu e detestou. Na casa dele não tem nem escada, ora.
Aí ele foi para a despensa. Estava mesmo precisando de penumbra e solidão. E o desgraçado nem sabia disso. Um tolo que nem sabia. Ser no escuro é a melhor coisa que tem, é um prazer contínuo e contido, ou um dos dois. O negócio é ser devagazinho. E o escuro não deixa ver o que já foi riscado. É estimulante.
Ele com a mão no bolso, enfim, estava muito bem para quem precisa respirar. É certo que se escondia deveras, principalmente quando tinha que sair a sol pleno. Mas surpreendentemente ele aprendeu que, se se concentrasse na bendita respiração, ele até podia passar incólume.
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[cadê o final?]
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