terça-feira, 17 de março de 2009

Cidades (na falta de título melhor)

Cruz das Almas é meu parafuso. Eu odeio Cruz das Almas, odeio. Eu amo igual, igual. Eu sou de Cruz das Almas é uma expressão de posse, não? Faz tempos que ando por essas coisas. Eu engoli, engulo pra regurgitar. (pior que eu acho essas questões com a terra natal démodé e muito freudianas).

Não estou mais agüentando Cruz das Almas. Mas eu gosto tanto, é tão bom pensar em lá. Para acabar logo com isso, Cruz é posse minha porque sou saudosista e tive muita infância. Basicamente só por isso, até segunda ordem. E eu já odeio essa cidade, que me amarga a boca, porque ela me encerra, me tranca. Arh...

Mas, para falar de Cruz, é preciso:

Tem um lugar no mundo que é mais meu do que de qualquer pessoa. A Roça é minha porque me teve e me respirou longe. O lugar é uma respiração. Uma série de respiração em ritmo compassado com pensamentos que acontecem, desfazem-se e são infixáveis. O único lugar devassado onde nada me vê e eu vejo muito longe. É minha bola de vidro, só falto voar. Nenhum lugar faz o silêncio que a Roça faz. Aquele lugar é muito meu também porque se transformou em depósitos de memória muito pouco visitados. É um santuário que adquire importância por ser pouco visto.

O que eu digo é que a Roça é o que mais tenho de meu, o que é muito, mas muito meu, porque vou muito pouco lá. Eu só tenho, sinto que é meu de fato, o que não está comigo. Lembrei de uma frase, de Proust acho, cuja idéia é: não há presença mais viva do que a daquela pessoa que está longe de você (evidente que ele o disse de modo muito mais digno).
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Parece que, na Roça, é possível ser. Como o silêncio é.

Salvador, enquanto estou aqui, não é nada, é um gás que eu respiro e me sinto, digamos, inteira e solúvel. Salvador só vai ser eu quando estiver longe, longe, longe.
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E Granada... Granada é minha licença poética.

E ultimamente está sendo desagradável visitar a cidade de Cruz das Almas. Ela não me deixa, é uma... não é memória nem presença, é uma saudade inviável, uma saudade que não vai se realizar. A Roça, é uma saudade no santuário, está lá para um dia (que virá) ser o que foi quando me respirou. Ou melhor, está lá para me lembrar o que me construiu. Salvador, veja, é onde estou, não há o que querer trazer de volta. Salvador só vai ser saudade e memória (como Cruz ou como a Roça) quando eu sair daqui, mesmo que eu viva 70 anos nessa cidade. Saudade só existe nas interrupções, nas mudanças, nos lapsos dos acontecimentos. Saudade não é percurso.

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