“Veja o exemplo das cidades: são mais belas e melhores as cidades que nasceram e cresceram por si mesmas, onde cada um construiu segundo o seu próprio gosto e necessidade. Mas aquelas que foram construídas a régua e compasso não passam de casernas e mais casernas...”
A citação acima é um trecho do livro inconcluso Almas Mortas, de Nikolai Gógol, publicado em 1842. Fiquei muito tentada em apenas dizer que Gógol antecipou em mais de 120 anos a dicotomia urbanística (progressismo x culturalismo) explicada por Françoise Choay em “O Urbanismo: Utopias e Realidades. Uma Antologia”. E só complementar dizendo que ele estaria concordando com a corrente culturalista de Camilo Sitte.
Massss... Tenho que ser franca. O trecho completo da fala do personagem é o seguinte:
"E o senhor é apreciador de panoramas? – perguntou Constangioglio, fitando-o com súbita severidade. – Veja lá, se começa a correr atrás de paisagens, ficará sem pão e sem paisagem. Olhe para o proveito, não para a beleza. A beleza virá por si mesma. Veja o exemplo das cidades: são mais belas e melhores as cidades que nasceram e cresceram por si mesmas, onde cada um construiu segundo o seu próprio gosto e necessidade. Mas aquelas que foram construídas a régua e compasso não passam de casernas e mais casernas... Deixe de lado a beleza e pense mais nas necessidades...”
Aí, mesmo não gostando de “régua e compasso”, ele estaria concordando mais com o funcionalismo progressista de Le Corbusier, né não?